Cap. 1 – Introdução: o Projeto
Participe da discussão deste capítulo
Será possível intervir, intencional e racionalmente, no destino da humanidade? Será possível, por decisão consciente e ação conseqüente, mudar o rumo do processo civilizatório? Supondo disponíveis, lucidez, discernimento e conhecimentos localizados suficientes à concepção teórica de um modelo civilizatório alternativo, capaz de descortinar um futuro mais promissor para a humanidade, será possível converter essa concepção teórica em um projeto prático de ação e promover intencionalmente a mudança do nosso modelo de civilização?
Tivéssemos permanecido no pastoreio indolente que embalou a espécie antes do despertar da consciência, ou tivesse a natureza nos negado o Livre Arbítrio, poderíamos invocar uma teoria do caos ou uma concepção fatalista de destino, dar resposta negativa a essas perguntas e comodamente esperar que os dados jogados pela providência nos concedessem a graça de sobreviver, ou então, resignadamente, poderíamos dar vazão aos nossos instintos e desfrutar do tempo que nos resta, tomando, naturalmente, o cuidado de não gerar descendentes. Dado, porém, que a história factual se deu de forma distinta e tendo em vista o tratamento regular que a natureza tem dispensado às espécies que entraram em becos existenciais sem saída, parece prudente apostar em respostas positivas e investir na busca de uma equação que seja capaz de solucionar o problema. Uma espécie dotada de livre arbítrio que, apesar de viver em meio a uma natureza regular, revele-se incapaz de traçar para si um destino conveniente, certamente não merece sobreviver. Não por uma questão ética, mas por uma questão estrutural de uma lei natural que não pode dispensar a mais rigorosa e precisa coerência interna.
Arquimedes, que nos legou a lição da alavanca, nos garante ser teoricamente possível movimentar o mundo, desde que consigamos um ponto de apoio adequado. O caso em questão não se afigura como simples questão de Mecânica, mas a idéia de usar uma ferramenta parece adequada e nos lembra o conceito de Paradigma proposto por Thomas S. Kuhn nos idos de 1962. Kuhn mostrou que a evolução histórica do pensamento científico se deu em virtude do reiterado advento de novos paradigmas científicos. O exame das percepções de Kuhn nos despertou o seguinte questionamento: poderá, por ventura, o conceito de paradigma científico ser ampliado e fundar um conceito de Paradigma Civilizatório, munido de potencialidades capazes de conferir-lhe o mesmo papel diretor no plano geral da civilização e servir de alavanca no caso que aqui estamos considerando?
Estudamos os paradigmas científicos de Kuhn e chegamos a conclusão de que o conceito de Paradigma Civilizatório nos permite explicar e descrever com precisão e economia, o modelo civilizatório vigente hoje no mundo Ocidental e que, grosso modo, predomina no planeta. Essa mesma propriedade do conceito permite também caracterizar e descrever o modelo civilizatório alternativo implícito em um paradigma de compleição distinta. Isso porque, nesse estudo, Paradigma Civilizatório emergiu como princípio orientador, estruturador e modelador de um sistema teórico, que usado coletivamente alicerça, sustenta e produz naturalmente, um padrão civilizatório.
Admitindo que o conceito de Paradigma Civilizatório contemple tais propriedades, caso sejamos capazes de conceber um paradigma que privilegie as melhores virtudes e potencialidades do projeto humano e por conseqüência desvalorize e iniba os vícios e os instintos que herdamos da nossa animalidade ancestral e que já não se coadunam com uma condição superior em complexidade organizativa, tipicamente humana, estaremos aptos a vislumbrar com antecedência o modelo civilizatório potencializado e decidir racionalmente sobre a sua conveniência, tendo naturalmente em vista os custos sociais envolvidos em sua implantação.
Tendo esse conceito de Paradigma Civilizatório como hipótese de partida e considerando a proposta de Logos Normativo publicada em Brasília, (Rodrigues, 1999, 2011, 2016), – modelo postulado formalmente como paradigma universal, conforme com as mais recentes exigências explicativas que emergiram com a ciência moderna, – quer nos parecer que estão presentes razões teóricas suficientes para ensejar um estudo criterioso da questão e um esforço intelectual visando verificar as reais possibilidades de se encontrar uma solução positiva.
Tendo estas considerações como ponto de partida, vimo-nos na contingência de mapear a questão e identificar os diferentes aspectos que precisariam ser estudados e especificados para que se logre construir uma tese consistente e convincente sobre as possibilidades de uma intervenção racional e conseqüente no curso civilizatório da humanidade. A solução organizativa a que chegamos configura o sumário desta obra que em seu conjunto contempla uma concepção estratégica que se oferece a humanidade na intenção de demonstrar ser teoricamente possível intervir racional e conscientemente nos rumos da história, ao menos quando se entender impostergável corrigir o rumo das coisas e viabilizar um horizonte de sobrevivência mais promissor para a espécie.
Estrutura da questão ou Sumário da obra: (Versão 2)
1. Introdução
2. Justificar o conceito de Paradigma enquanto fundamento de um padrão civilizatório. – Objetivo: dar credibilidade ao conceito de Paradigma Civilizatório.
3. Leitura paradigmática do modelo ocidental de civilização com destaque dos problemas estruturais que comprometem o futuro da humanidade. – Objetivo: demonstrar que a atual Civilização Ocidental constitui fruto de um paradigma formal claramente identificado.
4. Uso do Mito da Caverna de Platão para tipificar a mentalidade predominante no mundo ocidental e identificar as condições gerais de contorno que terão de ser consideradas em virtual projeto de intervenção social.
5. O modelo do Logos Normativo enquanto descrição ontológica da existência – Objetivo: axiomatizar, justificar e descrever o modelo.
6. Demonstrar o poder heurístico do modelo do Logos Normativo. – Objetivo: dar credibilidade ao modelo.
7. Descrever o modelo de civilização potencializado pelo Logos Normativo caso seja formalmente adotado como Paradigma Civilizatório. – Objetivo: evidenciar as vantagens comparativas do novo modelo.
8. Os possíveis caminhos da transição – Objetivo: identificar em face das circunstâncias, as vias alternativas disponíveis para encaminhar a mudança.
9. Antecedentes históricos do padrão paradigmático representado pelo Logos Normativo. – Objetivo: mostrar que versões outras do mesmo paradigma já foram usadas com relativo sucesso pela humanidade.
10. Conclusão:
Deixe um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.