Ankh – A Chave de Isis
Jônatas Rodrigues[i]
No Alto Egito, rodeado pelas areias do deserto, encravado nas pedras dos grandes templos, à margem do Nilo, havia um conhecimento que fora preservado durante gerações e gerações, que fizera daquela civilização a maior e mais desenvolvida do planeta. Tratava-se de um conhecimento que muito poucos tinham acesso, que somente alguns escolhidos foram capazes de aprender seu significado – os sacerdotes. Estes, diz-se são os iniciados nos mistérios. Nas paredes de pedra dos mausoléus egípcios, ainda hoje encontram-se retratados os portadores de Ankh, os eleitos, que possuíram a chave para a eternidade e o acesso a uma nova consciência. Este conhecimento, agora esquecido pelas areias do tempo, ainda na antiguidade fora concedido a poucos estrangeiros, que diante de tamanho esplendor, a ele dedicaram suas vidas. Dentre eles, o grande filósofo grego Pitágoras fora sem dúvida seu maior expoente. A sabedoria que fora trazida à Grécia e que impulsionou seu continente, o tornou o mais conhecido filósofo da antiguidade. Discípulos provieram das mais longínquas partes do Mediterrâneo querendo aprender seus ensinamentos, todos eles transmitidos à moda egípcia: pelas escolas de mistério. Para isso, no entanto, era preciso que primeiro fossem proficientes nas linguagens do universo: as matemáticas e as geometrias.
Por meio de rituais iniciáticos, os discípulos eram preparados e adquiriam a habilidade de extrair de dentro deles mesmos este conhecimento eterno, tal como uma semente que germina na alma de cada um, até seu florescer com a compreensão do grande segredo da vida. Não se tratava de um mero conhecimento, mas de um poder capaz de abalar todas as interpretações a respeito do cosmos. Apesar disso, era um conhecimento simples, que podia ser expresso até mesmo com uma só palavra, mas com um significado que necessitaria de vidas para sua completa compreensão. Tratava-se do mais fundamental de todos os conhecimentos. E assim, os discípulos vieram. Não para serem ensinados, mas para que pudessem aprender. E não bastava conhecer Ankh, era preciso também usar a chave nas portas do universo. E a cada porta aberta, outras mais se apresentavam. Infelizmente, por força da tradição, Pitágoras e seus discípulos não deixaram nenhum testemunho escrito deste conhecimento. E aquele conhecimento que impulsionou a Grécia durante anos acabaria perdido.
Algumas centenas de anos mais tarde, na própria Grécia, o maior filósofo da antiguidade, Platão, foi o único capaz de reconstituir a palavra perdida e recuperar a sabedoria de Ankh. Desta vez, no entanto, Platão escreveu. Certamente, não da maneira que todos esperavam. Platão o fez do único modo que julgou conveniente: de modo que somente uma alma nobre o pudesse reconhecer, de modo que somente um cavaleiro virtuoso o pudesse alcançar. Escreveu na forma de diálogos, de mitos, de metáforas, que ao mesmo tempo em que não expressam nada, proferem tudo aquilo que é preciso. Escreveu para seus discípulos e para todos os outros, para que pudessem participar das discussões, para que pudessem percorrer o caminho e encontrar seu prêmio. Ainda hoje, Ankh está lá, na essência dos textos, em suas entrelinhas, adormecida, inerte, disfarçada em palavras simples e insuspeitas, frases desconcertantes e expressões românticas, a espera do próximo aventureiro.
Poucos tiveram sucesso nesta empreitada, encontrando-se entre eles os novos religiosos e alguns iniciados. Porém, tendo o tempo como inimigo, o conhecimento foi novamente adormecendo, foi sendo esquecido e lá permaneceu, oculto, impotente. Aristóteles certamente não o conhecia: não era iniciado. Fora desde sempre um grande filósofo, mas nunca compreendeu o que Platão e Pitágoras expressavam. Plotino foi um dos poucos. Soube reconhecer, assim como outros, mas sem dar o devido crédito a Ankh. Mas eis que hoje, dois mil e quinhentos anos depois, uma nova luz foi lançada sobre a humanidade. De traz da mais improvável das situações, no mais improvável dos continentes, alguém mais bradou os portões de Isis, empunhando glorioso, a grande chave negra. A palavra perdida, o verbo divino, está mais uma vez ao alcance dos homens. O caminho fora novamente trilhado. E agora cabe a mim, a você e a todos nós, nos precipitarmos com todas as nossas energias e coragem no abismo desta sabedoria, para fazer com que esta mesma chave abra também o coração e a mente de cada ser vivo deste Universo.
Brasília, mai/2013
[i] Bacharel em filosofia e doutorando em Filosofia na Universidade Católica de Santa Fé, na Argentina. Também idealizador do projeto Segundas Filosóficas
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