VOCÊ SABE POR QUE VOCÊ SE CONSIDERA DE ESQUERDA?

Em síntese, você simpatiza com ideias ditas de esquerda, porque você é um ser humano fruto do seu tempo e sintonizado com ele. Em poucas palavras: um homem pós-moderno. No Período Imperial, os homens pensavam de outra forma e viviam de modo correspondente: em constante relação mental com os deuses da criação, os quais determinavam o destino de todos. Na Idade Média, o modo de pensar predominante mudou. Assumiram relevância o corpo humano e as necessidades dele – a par da pré-existente importância da alma. Com isso, o pensamento tornou-se diferencial e dicotômico, com destaque para as dicotomias corpo x alma e profano x divino, e o modo de ser da vida social também se modificou, com destaque de os grandes impérios cederam lugar a feudos menores, supostamente, mais fáceis de administrar. No Período Moderno, modo de ser, de pensar e de viver voltam a mudar. O pensamento sistêmico se estabelece hegemônico, as ciências geram tecnologias, máquinas são criadas, e a civilização moderna assume a feição conhecida, primeiro, com monarquias absolutas e, depois, com estados modernos, priorizando ciência, funcionalidade e eficiência produtiva. Finalmente, descobre-se que, em sociedade, o prioritário deve ser o ser humano, a quem a produção se destina, e isso se dá porque novo modo de pensar contempla primordialmente os conflitos dos homens com as suas circunstâncias, e a perspectiva histórica revela que ele sempre foi preterido. Preterido, no início, pela tirania dos imperadores, posteriormente, pelo domínio do clero e do monarca e, finalmente, pelo impessoal poder econômico industrial e financeiro. Nessa perspectiva, nada mais natural do que as tentativas de tomada do poder pelo proletariado e a imaginação de que estados socialistas possam ser mais adequados, para que o bem-estar e a riqueza sejam mais bem distribuídos entre todos. Esse novo modo de pensar torna-se predominante no século XX e gera um modo de ser e de viver típico, sobretudo, crítico da Modernidade – daí a designação de período Pós-Moderno –, que vai se insurgir contra o domínio econômico industrial e financeiro moderno. As concepções políticas geradas na Pós-Modernidade configuram-se com rótulo socialista e logram ascender ao poder em muitos estados, mundo afora, em boa parte deles, mediante processos revolucionários. O mote sedutor dessas concepções advoga suposta igualdade entre todos os homens, em virtude da qual todos merecem desfrutar do mesmo bem-estar e da mesma riqueza. O objetivo de todos desfrutarem de bem-estar e de riqueza semelhantes resulta sedutor, não apenas pela proposta ética envolvida, mas, também, porque eliminaria uma das principais causas de conflitos entre os humanos. Nesse caso, o mundo seria um mundo de paz. Quando você se identifica com esses propósitos, não há objeções razoáveis que se possa colocar nem ao seu idealismo nem à sua ética. Apesar disso, precisamos também ser razoáveis, ao constatarmos que, apesar de o socialismo vigorar atualmente em muitas sociedades, a sonhada igualdade de bem-estar não constitui marca de sucesso em tais países e, nos casos nos quais o regime foi implantado de modo mais radical, a igualdade conquistada revela-se muito pobre diante das possibilidades que a ciência e a técnica hoje disponibilizam. A evidência mais robusta de que a concepção socialista enfrenta problemas estruturais na condução do estado, revela-se no fato de a sua vigência se dar, majoritariamente, mediante regimes que impõem severas restrições democráticas na vida dos cidadãos. Fato esse que conflita com o impulso humano por liberdade, próprio de seres dotados de consciência e de discernimento. Apenas gado aceita ser tangido docilmente. Não acreditamos que algum pós-moderno almeje renunciar à sua própria liberdade de consciência, isto é, ao modo de ser e de viver que lhe dita a consciência. O contrário seria almejar escravidão, o que somente pode ser admitido por mente doentia.

Ora, sendo os propósitos do socialismo tão nobres e o seu modo de pensar mais esclarecedor do que os anteriores, a que se deve a confusão, o descrédito e os conflitos generalizados presentes nesta quadra pós-moderna dos tempos? Os próprios estados estão se revelando incapazes de prover a segurança e o bem-estar que lhes justifica a existência. Tanto assim que, no plano internacional, estamos diante da possibilidade concreta de uma guerra nuclear de grandes proporções, capaz de eliminar toda a espécie humana. Diante desse cenário, pensamos estar ao alcance inferencial de todos que, embora possa constituir modo de pensar superior aos precedentes, o socialismo tem se mostrado incapaz de equacionar os problemas sociais e de convivência, de modo satisfatório para todos. Nem mesmo tem conseguido superar a pobreza que persiste em grandes contingentes humanos. Logo, algo está errado nesse modo de pensar que hoje predomina, de sorte que, se realmente nos preocupamos com os destinos da humanidade, temos de ter a hombridade de aceitar que precisamos questionar e, virtualmente, rever os conceitos que presidem nossa interpretação da realidade, afinal, na condição de seres racionais, agimos no mundo segundo o nosso discernimento.

Para entender o que está se passando, precisamos repensar a história, ainda que, em linhas gerais, a divisão da história em quatro grandes períodos – Período Imperial, Idade Média, Modernidade e Pós-Modernidade – se afigure consistente, dado que distingue modos de ser e de viver nitidamente diferenciados. Quando se entra nos detalhes, porém, a história descrita se atém ao relato dos acontecimentos políticos, sociais ou naturais, relevantes, que se sucederam no tempo e geraram consequências e aprendizados. Embora importantes, esses acontecimentos constituem acidentes reais enfrentados pela espécie humana no seu percurso histórico. Esses acidentes poderiam ter sido outros, poderiam ter se dado de modo diferente e até mesmo ter ocorrido de forma distinta do relatado pelos historiadores e, apesar disso, continuariam a ser meros acidentes de percurso que deixaram sua marca e seu legado de ensinamentos. Quando se contemplam as guerras e os conflitos registrados na história, somos levados a inferir que os detentores do poder, em cada ocasião, entenderam que aquela era a solução adequada para o problema que então se oferecia e que essa decisão se pautava no modo de pensar que vigorava na ocasião. Se o modo de pensar, virtualmente, fosse outro, talvez a decisão teria sido diferente. Com isso, queremos postular a tese de que, para uma espécie dotada de consciência, a história relevante deve ser a história da evolução dos modos de pensar e do discernimento e não apenas a história dos virtuais acidentes de percurso. Naturalmente, sem desconhecer que o discernimento evolui turbinado pelo confronto do homem com suas circunstâncias.

Quando se focaliza a questão do discernimento humano, resta evidente – tal como já tinha sido constatado por Parmênides na antiguidade grega – que ser e pensar se correspondem, de maneira que aos quatro modos de ser e de viver destacados pela historiografia, como grandes períodos civilizatórios, correspondem quatro modos distintos de pensar, cada qual gerador do respectivo modo de ser e de viver. Com isso, resta aberta a possibilidade de se articular a história evolutiva do discernimento humano.

A sequência dos grandes períodos civilizatórios indica a sucessão de modelos organizativos da sociedade, crescentemente complexos, de sorte que se pode inferir, facilmente, que modos de pensar correspondentes configurem, igualmente, uma sequência de capacidades inferenciais também crescentemente complexas. Dado que cada modo de pensar, de algum modo, reflete-se no modo de ser e de viver, isto é, tenta, ao menos, corresponder à realidade existencial vivida, pode-se concluir que, à medida que o processo inferencial se complexifica, aumenta também a sua aderência à realidade, e o ser pensante se habilita a realizar interpretações crescentemente fidedignas e correspondentes à realidade. O pressuposto de uma tal história do pensamento humano repousa na tese de que a faculdade humana de pensar tenha caráter evolutivo: parte de um modo mais simples de pensar e tende a atingir o modo mais complexo e heurístico de pensar facultado à espécie, o que corresponderia ao domínio completo da faculdade de pensar.

Dada essa concepção, a questão remanescente que precisa ser equacionada para permitir a análise qualificada dos diferentes modos de pensar, destacando as potencialidades e os limites de cada um – empreitada essa que nos permitirá entender as potencialidades e os limites do modo pós-moderno de pensar –, consiste em formalizar as lógicas que presidem, determinam e regulam os quatro diferentes modos de pensar, naturalmente, admitindo-se a hipótese, hoje predominante, que entende lógica como sendo lei do pensamento.

As quatro lógicas que normatizam os quatro modos de pensar, geradores dos quatro grandes períodos civilizatórios, segundo o filósofo brasileiro Luiz Sérgio Coelho de Sampaio e segundo os nossos próprios estudos de lógica, denominam-se, respectivamente, lógica transcendental, lógica da diferença, lógica clássica ou sistêmica e lógica dialética ou da história. Naturalmente, não cabe, neste artigo, entrarmos no mérito técnico das operações normatizadas por essas lógicas que, embora indispensável para o domínio pleno da faculdade humana de pensar, mostra-se, aqui, dispensável, uma vez que a presente formação dos homens e a sua habilitação para executar o pensamento pós-moderno tampouco tiveram o cuidado de esclarecer a base lógica que possibilita e suporta esse modo de pensar. Ao que consta, o ensino se deu mediante exemplos de inferências típicas desse modo de pensar, de sorte que, também aqui, vamos nos valer apenas de exemplos inferenciais típicos de cada período histórico, para evidenciar a correspondência entre os modos de pensar – e as suas crenças – e os modos de ser e de viver que se sucederam.

Segundo essa concepção, o modo de pensar que predominou no Período Imperial, patrocinado pela lógica transcendental – também designada de lógica da identidade –, foca e visualiza certas coisas e não consegue enxergar outras. Visualiza, sobretudo, o movimento transcendental de entrada e de saída de fenômenos da existência. Percebe presenças e ausências tanto no mundo objetivo como na consciência, de maneira que tais presenças no mundo e na consciência oferecem-se, sempre, tendo como pano de fundo ou referência um indeterminado, situado para além da consciência e do mundo. Daí o requerimento constante dos deuses da criação e das concepções mitológicas, de um lado, e a perplexidade diante do que se situa fora ou além da consciência, de outro. Esse padrão de pensamento permite identificar e dar nomes as coisas, lembrar o que está guardado fora da consciência (inconsciente?) e até mesmo intuir o que ainda não se sabe e que surge sabe-se lá de onde. Nesse modo de pensar, justifica-se entender que o poder temporal constitua dádiva dos deuses, a morte represente a solução adequada dos conflitos, e morrer com glória seja entendido como conquista de lugar na morada dos deuses.

No modo medieval de viver, a lógica predominante é a lógica da diferença, que traz consigo a simetria e a variedade infinita de matizes, em que essa simetria se manifesta, contemplando igualdades, diferenças, compatibilidades, incompatibilidades, correspondências, oposições, posições relativas, hierarquias e por aí vai. Em razão da predominância, na fase anterior, da lógica transcendental, as diferenças que se acentuam no medievo constituem dicotomias ainda presas à presença dos deuses, com a diferença de, agora, contemplar, também, o organismo humano que merece ser tão bem considerado quanto a alma. Em consequência, a presença da religiosidade e as dicotomias corpo x alma, cristão x herege, mundano x profano, entre outras. O próprio governo se instala como dobradinha, príncipe – cardeal. Observe-se que esse modo medieval de pensar supera a relação atávica entre espírito humano e as divindades da criação da época imperial e, ao focalizar o corpo e a alma, aproxima-se da contemplação objetiva da condição humana, como fenômeno concreto situado no mundo. Há herança, mas, também, evolução.

Com o advento da Modernidade e a hegemonia da lógica clássica, também designada de lógica do terceiro excluído ou lógica sistêmica, o modo de pensar muda novamente o seu foco. O que ele revela é a relação constante e previsível entre causa e efeito, que pode ser estabilizada nos confrontos de matéria com matéria. O foco se volta para a materialidade presente no mundo e para o seu aproveitamento adequado, visando a ampliar o conforto humano. O resultado notório desse modo de pensar é a ciência moderna e a tecnologia decorrente, materializadas em máquinas e em ferramentas cujo impacto civilizatório todos conhecem. O efeito transformador desse modo de pensar no modo de ser e de viver revela-se tão amplo que não apenas deixa clara a sua superioridade sobre o pensamento medieval, como também estabelece a ciência como sendo a única fonte confiável de verdade. Estabelecido o império da lógica clássica e do pensamento sistêmico, restam compreensíveis a valorização da eficiência funcional das máquinas e dos sistemas produtivos bem como o erro básico de considerar o trabalhador como mera peça substituível.

Com o advento das teses comunistas e socialista de Marx, o modo de pensar adquire feição crítica e ressalta a perspectiva histórica, amparado por uma lógica denominada dialética, que, focalizando o confronto histórico dos homens com suas circunstâncias, patrocina novo modo de ser e de viver, o qual visa a superar a Modernidade e que, em consequência, resulta identificado como período Pós-Moderno, dito, também, contemporâneo. O modo pós-moderno ou dialético de pensar se estabelece e se revela como sendo heuristicamente superior ao modo sistêmico, denuncia os seus limites e, finalmente, coloca o ser humano como centro de referência e de valor do processo civilizatório. A partir de então, definitivamente, o homem não pode mais ser considerado apenas mera peça da máquina, ao contrário, precisa ser considerado como razão existencial de todas as máquinas e dos próprios governos ou soluções organizativas adotadas para viabilizar o convívio social. As características estruturais do pensamento pós-moderno foram amplamente discutidas pelo professor Ítalo Moriconi, em sua tese sobre a provocação pós-moderna de 1994, que merece ser estudada por aqueles que almejem entender os condicionantes que dirigem a sua abordagem dialética dos problemas e as conclusões que essa lógica enseja. Em síntese seletiva suficiente, destacamos que esse modo de pensar recusa a existência de princípios gerais, universalmente válidos, recusa o estruturalismo e as suas consequências organizativas e hierarquizantes, abraça o multiculturalismo e, da mesma forma, adota a multidisciplinaridade, razão pela qual considera que todas as perspectivas são igualmente válidas e as soluções apenas podem ser adotadas mediante o confronto dialético das opiniões no curso da história. Tendo sucedida a era moderna, compreende-se que enfatize os seus conflitos e a sua superação do modo moderno de pensar, em particular o seu confronto com o capitalismo gerado na Modernidade. O confronto entre moderno e pós-moderno, na seara política, ainda hoje, manifesta-se, equivocadamente, como confronto ideológico entre direita e esquerda, fato que se justifica apenas pelo desconhecimento do processo histórico de desenvolvimento da razão e do discernimento. Dado que a dialética focaliza o processo histórico e que este contempla apenas as transformações que se sucedem no curso do tempo, resta claro por que esse modo de pensar desconsidera certos conceitos como, estabilidade, estruturas determinantes e princípios universais permanentes. Estes, caso existam, estão fora do foco da dialética, da mesma forma que o homem estava fora do foco da lógica sistêmica da Modernidade.

Como os mais atentos já devem ter percebido, o desenrolar desse processo evolutivo, sem a consciência de que se tratava de um processo de desenvolvimento da razão e da capacidade interpretativa, levou os homens a sobrevalorizar cada novo modo de pensar conquistado e, simultaneamente, a subestimar os modos precedentes, sem perceber que o processo resulta ser cumulativo, tal como as lógicas também são cumulativas, crescentemente complexas e, em razão disso, crescentemente capazes de vislumbrar a verdadeira compleição da realidade. Ao contrário do que defendem as ideologias de direita e de esquerda, os modos de pensar não são concorrentes, mas, sim, complementares, no propósito de instrumentalizar a consciência humana para realizar interpretações crescentemente correspondentes à realidade. A tabela periódica de elementos demonstra, de forma peremptória, que a realidade universal se edifica, de modo organizado, cumulativamente, do simples para o complexo. Indicativo robusto de que toda a realidade se edifica do simples para o complexo, mediante processo organizativo cumulativo, que enseja modos de ser, também, crescentemente complexos, aos quais, como descrevemos, correspondem modos de pensar correspondentes, isto é, necessariamente, crescentemente complexos.

Diante desse quadro, parece viável a tese de que o processo de evolução do discernimento configure o desafio central da espécie humana na formação de um ser humano pleno em sua racionalidade, ao conquistar domínio formal das lógicas e dos modos de ser, segundo os quais, a realidade universal se edifica e os modos de pensar correspondentes podem efetivar-se.

Observe-se que o caráter cumulativo das lógicas, dos modos de pensar e dos modos de ser e de viver desautoriza completamente o ataque indiscriminado à perspectiva conservadora que tenta preservar o que percebe dotado de valor natural ou humano, imune ao decurso do tempo. Para mentes científicas, podemos explicar o processo cumulativo do simples para o complexo, com ajuda da geometria euclidiana. Isso porque a geometria tem início no ponto – considerado um lugar no espaço desprovido de dimensão, ou seja, indivisível – e culmina na esfera, considerada limite evolutivo superior da forma. Esfera, convém lembrar, conceituada como poliedro regular de infinitas faces, que se presta bem para indicar a forma de totalidade composta de partes, aplicável a todo fenômeno que manifesta presença no plano da existência relativa. A geometria euclidiana tem a faculdade de indicar, racionalmente, o percurso que parte de um ponto indivisível e culmina, transitando pelos poliedros regulares, em uma totalidade esférica complexa, também unitária, tal como são todos os fenômenos que manifestam presença na realidade universal. A sequência do processo de complexificação da forma compreende ponto, segmento de reta, triângulo equilátero, tetraedro, como sendo o primeiro dos poliedros regulares, e esfera, como horizonte evolutivo dos poliedros regulares e limite superior da forma. Tratando-se essa construção geométrica, nitidamente, de um processo cumulativo, resta evidente que, tomando-se a esfera como resultado dessa complexificação, a virtual supressão do ponto implicaria, necessariamente, a destruição da esfera. Sem o ponto inicial gerador da reta, a esfera não existiria. Com isso, fica demonstrado que nem tudo o que integra o nosso passado histórico ou compõe a essência ontológica da existência pode ser desprezado e que o espírito conservador tem boas razões para persistir. Assim, revela-se um ponto falho crucial do modo pós-moderno de pensar. Ainda que certas tradições sejam apenas folclóricas, outras, certamente, resultam indispensáveis.

Examinando, agora, politicamente, esse percurso histórico da civilização e dos correspondentes modos de pensar, pode-se inferir que os imperadores da primeira fase não ficaram satisfeitos com o advento da Idade Média, nem os príncipes e cardeais, com a Modernidade, e tampouco os detentores do poder político desta, com o advento da Pós-Modernidade. Apesar disso, os novos modos de pensar mais abrangentes e esclarecedores emergiram, e a evolução aconteceu. Desse modo, parece lícito entender que as críticas, ora oferecidas, ao presente estágio civilizatório, apontando os limites inferenciais e interpretativos do modo pós-moderno de pensar, decorrem do advento de uma nova lógica, superior em complexidade e dotada de foco de visão, mais amplo e completo da realidade, que está emergindo por toda parte, colocando em xeque a prevalência da dialética e prometendo mudar o modo pós-moderno de ser e de viver. Graças a Deus! Dirão os mais angustiados com as desordens que campeiam. O advento e a categoria dessa lógica superior já estão prognosticados nas matemáticas de Pitágoras e nos diálogos de Platão, e a lógica emergente se configura como lógica da totalidade. A razão é simples: na natureza, não existe algo que corresponda ao conceito analítico de parte. Na existência, apenas constatamos a presença de fenômenos unitários e complexos, isto é, totalidades organizadas, compostas de partes, logo, apenas um pensamento que vislumbre a totalidade pode nos colocar, verdadeiramente, em contato direto com a realidade.

Reconhecemos que essa descrição sintética da história do discernimento humano resulta pobre e insuficiente como teoria do conhecimento, mas, aqui, estamos apenas tentando colocar algumas dúvidas essenciais em mentes fascinadas pela perspectiva dialética que, virtualmente, entendam o modo pós-moderno de pensar como estágio superior e final do discernimento humano, condição na qual o seu questionamento seria dispensável ou mesmo impossível. Se o texto conseguir transmitir a ideia de que ainda não chegamos ao fim da história, quanto à evolução do discernimento, e de que apenas a conquista formal de todas as lógicas que instrumentalizam a razão humana oportuniza civilização superior a essa pós-modernidade conflitiva, podemos dar-nos por satisfeitos.

Para finalizar, cabe destacar que o presente conflito social rotulado de confronto político entre ideologias de esquerda e de direita representa mero engodo dos atuais detentores do poder, na tentativa de preservar o privilégio da sua ascendência sobre as populações. O que está sendo questionado atualmente é o modo pós-moderno de pensar e a hegemonia da lógica dialética. Esse questionamento não pode ser realizado pelo modo moderno de pensar, visto que a lógica sistêmica que o sustenta apresenta amplitude inferior à amplitude da lógica dialética e, portanto, não tem escopo para criticá-la nem mesmo para entender o seu modo de operação. Tanto assim que, na capacidade de visualizar a realidade, a lógica dialética e o modo pós-moderno de pensar, como atesta o percurso histórico, venceram e superaram o modo moderno de pensar. Isso posto, impõem-se duas conclusões mínimas. De um lado, resta evidente que os detentores do poder econômico da Modernidade e os detentores do poder político da Pós-Modernidade estão pressentindo o advento de um novo modo de pensar que promete instaurar realidade nova na qual esses poderes tendem a ser extintos ou, ao menos, francamente reduzidos, tanto assim que a nomenclatura socialista se uniu com a aristocracia financeira capitalista para, usando Ongs e políticos associados, obstaculizar, de todas as formas possíveis, o livre trânsito de informações que tende a universalizar esse emergente novo modo de pensar. Aí está a razão profunda das tentativas de controle das redes sociais. Caso você tenha convicções socialistas e esteja agindo amparado por recursos oriundos do sistema financeiro internacional, acautele-se, para não estar sendo usado como massa de manobra em projeto de contenção da evolução da capacidade inferencial humana, liminarmente, fadado ao fracasso, já que ninguém consegue conter o curso da história. De outro lado, dado que as críticas ao modo pós-moderno de pensar apenas podem ser oferecidas por uma lógica mais complexa e de abrangência superior, voltada para a contemplação da totalidade da existência, reveja as suas crenças, pesquise, estude e verifique se, apesar do rótulo progressista que tanto o orgulha, você não está, na prática, oferecendo resistências à evolução do discernimento e dos modos de ser e de viver. Talvez a evolução mental lhe pareça ser um investimento mais interessante do que essa luta ideológica sem futuro.