Rubi Rodrigues

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  • em resposta a: a ferida que nunca cicatriza #564

    Caro Ricardo
    Tocas num assunto sobre o qual nunca me dediquei seriamente. Em função da tua profissão tens mais experiência que eu na questão, De qualquer forma me parece adequado teu diagnóstico indicando que as motivações básicas situam-se no plano do equilíbrio mental dos indivíduos, afetado por angústias e insatisfações de toda ordem, confrontadas com a pequenez e a impotência individual para fazer frente a elas. Parece-me relevante também o teu destaque de que o uso de drogas constitui ocorrência que se perde na noite dos tempos. Sobre angústia tive minha experiência pessoal e sei exatamente do que se trata. Em torno dos trinta anos enfrentei minha angústia maior. Tinha uma companheira exemplar que até hoje está ao meu lado, filhos lindos e saudáveis, já tinha resolvido as questões econômicas básicas, casa, carro, bom salário, um emprego onde era bem quisto, etc. No entanto, passei dez meses descendo à noite depois do jantar, sentando na ponta dos pilotis olhando a noite e perguntando ao cosmo se a vida era só isso e não acreditando que eu tivesse vindo à vida apenas para isso. Acumular fortuna nunca me atraiu e embora levasse uma vida tranqüila, não estava satisfeito. Não era possível que a vida se resumisse a isso: casar, ter filhos, ser feliz. Questionei tanto e tão intensamente o universo e o meu ser, que, de repente, apareceu Sampaio com suas lógicas e suas teorias. Passei trinta dias no Rio de Janeiro participando de um treinamento gerencial onde a questão básica era Filosofia e quando voltei já estava engrenado no projeto de conseguir fazer uso consciente e metódico da razão que até hoje me acompanha e me energiza.
    Imagino que o amigo deve ter conhecimento de casos em que a angústia tenha sido causada por agressões e violências inimagináveis, mas esse meu exemplo sem qualquer presença de violência, serve para indicar que os desequilíbrios mentais que potencializam o uso de drogas podem ter as mais diversas origens. Eu na época fumava cigarros – que não deixam de ser uma droga -, e não sei se isso indica que a angústia gere alguma propensão às drogas. De qualquer forma tenho a impressão que caso não tivesse encontrado um desafio capaz de envolver todo o meu ser, possivelmente teria meu equilíbrio mental comprometido sem ser portador de qualquer patologia física. Desde então, passaram-se quarenta anos e hoje sinto-me em harmonia com a natureza, com o cosmo e com a vida e cultivo serenidade porque o logos me facultou uma compreensão de como o universo surgiu e funciona. É claro que se trata de um saber provisório que amanhã deverá ser superado, mas hoje ele propicia esse equilíbrio e essa harmonização do meu ser no mundo. Assim Ricardo, não sei como enfrentar a pandemia das drogas, apenas posso oferecer esse exemplo e disponibilizar para todos os que procuram as informações que coletei no percurso e o modelo de entendimento que eliminou do meu ser qualquer resquício de angústia. Percebo que a humanidade está desorientada e enfrenta muitas dificuldades para distinguir o que lhe convém e o que a prejudica e penso que colocar ordem no pensar e ampliar o discernimento geral dos homens constitui tarefa útil que pode mostrar uma saída. Leia o Capitulo 4 do Projeto e veja que no Mito da Caverna Platão já indicou o tipo de problema que a humanidade enfrenta, dentro do qual as drogas são um exemplo representativo. Aliais o Projeto deste site procura enfrentar essas coisas na sua raiz: as crenças que determinam o modelo civilizatório. Somente com outras crenças ajustadas à natureza produziremos um mundo melhor.

    em resposta a: emoção afeto humano #556

    Caro Ricardo
    No teu comentário de 11/04 você tocou em muitos pontos importantes que dizem respeito ao bem estar e a vida humana e que por isso mereceriam ser analizados. Dado que contemplar a todos geraria um texto muito extenso, proponho centrar o foco em duas perguntas que entendo indicam o âmago de tuas preocupações: Poderá o homem separar o bem do mal? Ou o caos chegará às ultimas consequências? Essas duas perguntas indicam, de um lado, uma leitura caótica da civilização atual e, de outro, uma percepção de que o homem encontra-se desorientado ou perdido em meio a profusão de problemas e contradições que conferem justamente essa conotação caótica ao padrão civilizatório.
    Em primeiro lugar gostaria de observar que a dicotomia bem-mal constitui um critério problemático para se avaliar as coisas. Algo pode ser considerado um bem para um e um mal para outro e até para uma mesma pessoa, algo pode ser ora bom e ora mau ou em certa circunstância bom e noutra mau. Além disso, bem e mal admitem gradação, de sorte que um mal menor é preferível a um mal maior. Em Filosofia se designa de Maniqueísmo as doutrinas que se valem dessa dicotomia. A melhor definição de bem que conheço é de Platão: a justa medida – que ele, fazendo Metafísica, assimila ao belo, a Deus ou ao Princípio Criador do qual o universo brota. Nesse sentido seria bom tudo o que obedece às leis universais o que em última instância indicaria que não existe mal já que tudo no mundo obedece a essas leis. As objeções que já surgiram na tua cabeça comprovam que esse critério é problemático. Em segundo lugar cumpre observar que esse caos vislumbrado restringe-se ao social e que a natureza, ao contrário, apresenta-se criteriosamente organizada e se mantém perfeitamente estável ou ao menos, é isso que nossos olhos constatam. Quando olhamos a natureza utilizando o logos como paradigma, percebemos que a natureza se organiza do simples para o complexo galgando “degraus” de crescente complexidade, obedecendo sempre ao mesmo padrão existencial. O logos define esse padrão existencial e em cada degrau da complexidade universal vamos encontrar fenômenos dotados de certa complexidade típica. No primeiro degrau encontramos as partículas quânticas, no segundo as partículas atômicas, no terceiro os átomos, no quarto as moléculas, no quinto os organismos. Essa ao menos é a escala de complexidade identificada pela ciência. Quando se olha o plano das partículas quânticas o que se vislumbra é um mundo caótico, onde as presenças são fortuitas e as localizações meramente probabilísticas. Apenas quando as partículas quânticas se articulam ou são articuladas na forma organizativa das partículas atômicas conhecidas, é que adquirem certa estabilidade. Quando se olha o plano das partículas atômicas a confusão não é menor. O próton é positivo, o elétron é negativo e no nêutron neutro. Nessas condições, um oceano de partículas atômicas livres configura certamente um mundo igualmente caótico. No entanto, em certas condições extremas, virtualmente só encontráveis no interior das estrelas, essas partículas atômicas se articulam ou são articuladas nas formas organizativas que conhecemos por átomos. Assim também um oceano de átomos livres não deve configurar um mundo muito organizado e da mesma forma um oceano de vida unicelular. De alguma forma, porém – que ainda desconhecemos -, a vida unicelular evolui para organismos multicelulares, extremamente complexos onde as células integradas cumprem papeis especializados e complementares, conferindo estabilidade ao todo. Assim o que se constata na natureza é que aquilo que é caótico em dado degrau adquire ordem e estabilidade no patamar seguinte ao assumir uma configuração unitária dada por certa inteligência organizativa. Cada partícula atômica possui, portanto, uma inteligência organizativa própria e privativa, que a caracteriza como tal e a torna distinta dos demais fenômenos existentes, o mesmo se dando com cada tipo de átomo, molécula, organismo, planeta, estrela, etc. O homem não domina ainda esse processo de complexificação em todos os seus detalhes e supõe-se que a forja de um átomo no interior de uma estrela deve demandar pressão e temperaturas em escalas inimagináveis, mas algumas coisas se sabe porque são reveladas por comportamentos padronizados. Dentre essas se inscreve o fato de que cada degrau, visto com um olhar interior ao mesmo, revela uma realidade caótica inconciliável e que, no entanto, justamente por comportar diferenças localmente inconciliáveis, possibilita o surgimento, no próximo patamar, de uma unidade ordenada, de complexidade superior e de potencialidades insuspeitas no plano de origem (de suas partes). Ora, se isso acontece no plano quântico, no plano atômico e no plano celular, porque deixará de acontecer no plano dos organismos e dos seres vivos? Para negar isso teríamos que defender a hipótese do homem representar o ápice da evolução. Por isso, Ricardo, penso que o homem é larva de algo superior e que esse superior virtualmente terá asas e será capaz de realizar voos cósmicos. Observe que essa transcendência entre os “degraus” evolutivos constitui um padrão operacional da natureza. Quando dois átomos de hidrogênio se unem estavelmente a um átomo de oxigênio, surge o ser da molécula de água e os seres dos átomos constitutivos desaparecem, dando lugar ao novo ser mais complexo e poderoso. Ocorreu um mal dado que os seres dos átomos transcenderam? Ocorreu um bem porque surgiu o ser da molécula de água? A minha intenção com esse discurso não são as possíveis respostas, mas mostrar como é importante instrumentalizar a nossa mente com um paradigma que contemple e explique a existência, algo que as nossas ciências atuais não contemplam e ao não fazê-lo mantém os cientistas divorciados da natureza e sem o conforto da subliminar e indelével presença do Princípio Criador. Segundo me foi dado aprender, só o conhecimento possui o poder de libertar.

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