emoção afeto humano

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    Ricardo Mendes
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    Quero pegar seu comentário, caro Rubi, para também me esclarecer, pois encontrei nas linhas que escrevestes algo que gostaria de contemplar pela visão médica. Escreves que “encetar a segunda navegação é primeiro, necessário, para que alcancemos o equilíbrio e a serenidade pessoal, que somente então, em segunda instância, nos habilita a enfrentar todas as dificuldades e mazelas que o homem criou ao afastar-se da natureza”. Fico imaginando pessoas que tentam pensar um mundo melhor, como vós, convivendo com a dor, não só médicos, que virtualmente colocariam o doente numa maca e ligariam um computador e aí braços eletrônicos fariam o serviço, soa pouco humano acho…., Ficar sereno em presença do sofrimento, ficar desprovido do afeto básico capaz de reunir os homens e se sensibilizar e procurar soluções de bem estar comum, e o equilíbrio, que vai e volta, somos, embora negando, providos de afeto, mesmo que se manifeste apenas em momentos de solidão. Serenidade é possível, talvez, num ambiente tranquilo como o laboratório, não no contato com a miséria humana, nem com o sofrimento humano muitas vezes possível de se evitar com mais manifestações sinceras de afetividade entre os homens. Ver, enxergar, presenciar e não receber o impacto disso seria uma ação sem reação, num mundo frio, calculável, sem afeto… Parece-me mais uma defesa psíquica para não se deixar abater com o mundo decadente em que vivemos e acaba que ficamos habituados com a nossa realidade atual, fria nas relações pessoais parecendo que informatizamos até o espírito, onde sentimentos nobres como misericórdia, compaixão, perdão ou amor incondicional, fazem parte hoje de um museu da alma, que alguém um dia vai olhar e dizer que o ser humano fez pouco uso e pela falta dele se destruiu . A necessidade desse logos manifesta-se como a ultima esperança de uma era que transita desgovernada. Colocas este ponto para mim que comento, numa provocação de esperança pessoal. “O que o homem quer mais? Que um ser superior, talvez um anjo, desça do céu e o conduza pela mão? Mas ai não estaria mais merecendo então, nem o discernimento nem o livre arbítrio” Será que o nosso discernimento não está chegando um pouco tarde demais, e o livre arbítrio atual, com tantas influencias, continua mesmo livre? Poderá o homem separar o bem do mal? Ou o caos chegará às ultimas consequências? E aí, qual a certeza do homem em uma era, sem um grande mentor reorganizando o planeta? Certa vez fiz um trabalho que não esqueço. Havia num centro espírita no Rio de Janeiro, com uma enfermaria de doentes terminais do Instituto Nacional do Câncer, que deixava esses doentes sem família, sem possibilidade de tratamento, para morrerem amparados por pessoas benevolentes, que faziam o trabalho caridoso de cuida-los ate suas mortes. Nessa época estudava terapia de grupo e queria avaliar a expectativa dessas pessoas que ali estavam, e tentar trazer algum conforto. Como eram pacientes sem nenhuma expectativa, acho que buscava entender o ser tendo a morte a seu lado, mas tentando resgatar uma vida com plenitude naqueles infelizes, estimulando suas autoestima e dignidade, uma vida com significado, seja lá qual fosse. Por incrível que pareça muitas delas tinham esperança, conseguiam sorrir. Mas, nesse grupo, que se revezava toda semana, com idas e vindas, o equilíbrio oscila fosse você forte como fosse. Questionava aquele trabalho sempre nos momentos de reflexão, sua validade, até que uma mulher, nesse grupo, consciente de seu destino, nos trouxe uma questão familiar mal resolvida de seu passado e isso parecia lhe preocupar mais do que sua morte iminente. Em uma seção, com aqueles pacientes muito queridos, ela conseguiu, com a ajuda de seus amigos, resolver esse conflito pessoal, e, de certa forma feliz, pôde morrer em paz… E ai, por presenciar um caso de extremo sofrimento de uma paciente, percebi que a ignorância me deixaria mais imune, e razão traria quem sabe explicações de aceitação e conformismo, mas não foi isso que aconteceu e sai de lá. Perdoe-me, mas acho que para estar na segunda navegação terei que evoluir e alcançar novas visões… acho que deixar morrer a capacidade de sentir, de não me sentir sereno, de não acreditar que haja o livre arbítrio, matematicamente falando, para todos de uma forma IGUAL, deixa-me sentir mais livre e quem sabe mais perto do que tenho procurado nesse estagio de vida atual, observando a dor do próximo. Com respeito, caro mestre.

    #556

    Caro Ricardo
    No teu comentário de 11/04 você tocou em muitos pontos importantes que dizem respeito ao bem estar e a vida humana e que por isso mereceriam ser analizados. Dado que contemplar a todos geraria um texto muito extenso, proponho centrar o foco em duas perguntas que entendo indicam o âmago de tuas preocupações: Poderá o homem separar o bem do mal? Ou o caos chegará às ultimas consequências? Essas duas perguntas indicam, de um lado, uma leitura caótica da civilização atual e, de outro, uma percepção de que o homem encontra-se desorientado ou perdido em meio a profusão de problemas e contradições que conferem justamente essa conotação caótica ao padrão civilizatório.
    Em primeiro lugar gostaria de observar que a dicotomia bem-mal constitui um critério problemático para se avaliar as coisas. Algo pode ser considerado um bem para um e um mal para outro e até para uma mesma pessoa, algo pode ser ora bom e ora mau ou em certa circunstância bom e noutra mau. Além disso, bem e mal admitem gradação, de sorte que um mal menor é preferível a um mal maior. Em Filosofia se designa de Maniqueísmo as doutrinas que se valem dessa dicotomia. A melhor definição de bem que conheço é de Platão: a justa medida – que ele, fazendo Metafísica, assimila ao belo, a Deus ou ao Princípio Criador do qual o universo brota. Nesse sentido seria bom tudo o que obedece às leis universais o que em última instância indicaria que não existe mal já que tudo no mundo obedece a essas leis. As objeções que já surgiram na tua cabeça comprovam que esse critério é problemático. Em segundo lugar cumpre observar que esse caos vislumbrado restringe-se ao social e que a natureza, ao contrário, apresenta-se criteriosamente organizada e se mantém perfeitamente estável ou ao menos, é isso que nossos olhos constatam. Quando olhamos a natureza utilizando o logos como paradigma, percebemos que a natureza se organiza do simples para o complexo galgando “degraus” de crescente complexidade, obedecendo sempre ao mesmo padrão existencial. O logos define esse padrão existencial e em cada degrau da complexidade universal vamos encontrar fenômenos dotados de certa complexidade típica. No primeiro degrau encontramos as partículas quânticas, no segundo as partículas atômicas, no terceiro os átomos, no quarto as moléculas, no quinto os organismos. Essa ao menos é a escala de complexidade identificada pela ciência. Quando se olha o plano das partículas quânticas o que se vislumbra é um mundo caótico, onde as presenças são fortuitas e as localizações meramente probabilísticas. Apenas quando as partículas quânticas se articulam ou são articuladas na forma organizativa das partículas atômicas conhecidas, é que adquirem certa estabilidade. Quando se olha o plano das partículas atômicas a confusão não é menor. O próton é positivo, o elétron é negativo e no nêutron neutro. Nessas condições, um oceano de partículas atômicas livres configura certamente um mundo igualmente caótico. No entanto, em certas condições extremas, virtualmente só encontráveis no interior das estrelas, essas partículas atômicas se articulam ou são articuladas nas formas organizativas que conhecemos por átomos. Assim também um oceano de átomos livres não deve configurar um mundo muito organizado e da mesma forma um oceano de vida unicelular. De alguma forma, porém – que ainda desconhecemos -, a vida unicelular evolui para organismos multicelulares, extremamente complexos onde as células integradas cumprem papeis especializados e complementares, conferindo estabilidade ao todo. Assim o que se constata na natureza é que aquilo que é caótico em dado degrau adquire ordem e estabilidade no patamar seguinte ao assumir uma configuração unitária dada por certa inteligência organizativa. Cada partícula atômica possui, portanto, uma inteligência organizativa própria e privativa, que a caracteriza como tal e a torna distinta dos demais fenômenos existentes, o mesmo se dando com cada tipo de átomo, molécula, organismo, planeta, estrela, etc. O homem não domina ainda esse processo de complexificação em todos os seus detalhes e supõe-se que a forja de um átomo no interior de uma estrela deve demandar pressão e temperaturas em escalas inimagináveis, mas algumas coisas se sabe porque são reveladas por comportamentos padronizados. Dentre essas se inscreve o fato de que cada degrau, visto com um olhar interior ao mesmo, revela uma realidade caótica inconciliável e que, no entanto, justamente por comportar diferenças localmente inconciliáveis, possibilita o surgimento, no próximo patamar, de uma unidade ordenada, de complexidade superior e de potencialidades insuspeitas no plano de origem (de suas partes). Ora, se isso acontece no plano quântico, no plano atômico e no plano celular, porque deixará de acontecer no plano dos organismos e dos seres vivos? Para negar isso teríamos que defender a hipótese do homem representar o ápice da evolução. Por isso, Ricardo, penso que o homem é larva de algo superior e que esse superior virtualmente terá asas e será capaz de realizar voos cósmicos. Observe que essa transcendência entre os “degraus” evolutivos constitui um padrão operacional da natureza. Quando dois átomos de hidrogênio se unem estavelmente a um átomo de oxigênio, surge o ser da molécula de água e os seres dos átomos constitutivos desaparecem, dando lugar ao novo ser mais complexo e poderoso. Ocorreu um mal dado que os seres dos átomos transcenderam? Ocorreu um bem porque surgiu o ser da molécula de água? A minha intenção com esse discurso não são as possíveis respostas, mas mostrar como é importante instrumentalizar a nossa mente com um paradigma que contemple e explique a existência, algo que as nossas ciências atuais não contemplam e ao não fazê-lo mantém os cientistas divorciados da natureza e sem o conforto da subliminar e indelével presença do Princípio Criador. Segundo me foi dado aprender, só o conhecimento possui o poder de libertar.

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